sábado, 10 de novembro de 2007

A IGREJA PERSEGUIDA NA CORÉIA DO NORTE!

Como entender a Coréia do Norte? Em 2006, Rick Warren, pastor evangélico norte-americano mundialmente reconhecido, autor dos best sellers “Uma vida com propósitos” e “Uma igreja com propósito”, foi oficialmente convidado pelas autoridades norte-coreanas a viajar o país. Na ocasião, a cidade de Pyongyang, capital da nação, lançou alguns mísseis, numa outra tentativa de ameaçar os Estados Unidos e outros países, a fim de estabelecer seu próprio governo. Como explicar e entender esse tipo de contradição? Pode ser difícil de entender os motivos dessa nação secreta, quer seja lançando mísseis no oceano ou convidando líderes cristãos a visita-la, especialmente se lembrarmos que a Coréia do Norte ocupa o primeiro lugar no ranking de países perseguidores do cristianismo, segundo relatório da Missão Portas Abertas. Ronald Boyd-MacMillan, parceiro da referida missão, esteve na Coréia do Norte em três ocasiões e se encontrou com Kim Jung I, líder do país. Rob Moll, da agência de notícias Christian Post, conversou com Ronald em sua casa na Escócia, de onde concedeu a seguinte entrevista:

Rob Moll – O que você acha da visita de Rick Warren à Coréia do Norte?
Ronald Boyd-MacMillan – Existe a possibilidade de alguém viajar como personalidade religiosa, mas é propaganda. Viajei dessa maneira e me levaram até a Federação Cristã Coreana, também conhecida como Igreja Cristã em Pyongyang. Mas isso é só uma fachada para os estrangeiros. Mais tarde, um amigo meu, que não era cristão, foi para lá. Então, disse para ele passear pela cidade no domingo de Páscoa, para averiguar se havia mesmo uma igreja de verdade. O local estava trancado.
De fato, existe a Federação Cristã Coreana, mas não passa de um prédio para atrair religiosos para que eles sejam uma ponte entre o regime e o mundo de fora, pois os canais diplomáticos são muito difíceis de serem utilizados. Billy Graham fez isso por muito tempo. Pode haver uma regra para isso. Tenho certeza que Rick Warren está consciente de que não passa de propaganda para o governo norte-corea mostrar que eles também possuem uma igreja livre, o que não faz o menor sentido.

Rob Moll – Quantos aos lançamentos de mísseis, o que você tem a dizer? O que os norte-coreanos estão tentando fazer?

Ronald Boyd-MacMillan – É a única forma de eles se relacionarem com o mundo de fora, já que não têm mais nada a oferecer além disso. A única coisa é manter a aparência de perigosos. Os Estados Unidos e alguns outros países, em específico a China, têm participado desse jogo com eles, com certos parâmetros. Provavelmente, acham que se mantiverem um regime estável os norte-coreanos nunca lançarão armas nucleares contra o Japão ou contra a Coréia do Sul.

Rob Moll – Você teve a oportunidade de encontrar com cristãos norte-coreanos?

Ronald Boyd-MacMillan – Não. Se você for a algum lugar como a capital, você é mantido longe de qualquer cidadão local, e não há cristãos conhecidos lá. Talvez, a única maneira de conhecer cristãos seja atravessando a fronteira em direção ao Norte e visitar algumas igrejas domésticas, o que é bastante arriscado para um estrangeiro.

Rob Moll – É verdade que, antes do comunismo, havia muitos cristãos?

Ronald Boyd-MacMillan – É verdade. Eles chamavam Pyongyang de Jerusalém do Extremo Oriente. Ruth Bell Graham, esposa de Billy Graham, foi criada em uma pequena escola cristã, muito conhecida por lá. Kim Il Sung mudou todo o cenário na década de 40, obrigando a população a adorá-lo, logo depois da Guerra da Coréia na década seguinte.
Rob Moll – Ele conseguiu varrer quase toda a presença cristã?

Ronald Boyd-MacMillan – Sim. Diria que foi uma das maiores “limpezas” que já aconteceu no século 20. Lembro-me de ter encontrado, há poucos meses, uma refugiada da Coréia do Norte e ela comentou de como viu sua mãe pegando um pequeno livro, colocando-o dentro de uma agulha de tricô e enfiando no fundo do sofá em sua casa. No dia seguinte, a garota foi à escola e os professores fizeram um jogo em que diziam: “Seus pais possuem algum livro que eles leiam talvez em secreto?

Vamos fazer um jogo: traga o livro e iremos dar uma espiada”. É claro que ela entregou o livro, que era um Novo Testamento. Ao sair deixou a escola naquele dia, ela se deparou com dois homens que disseram: “Você nunca mais verá seus pais novamente”. E foi o que aconteceu. Foram levados aos campos de trabalho forçado. A menina foi encaminhada à outra família.

Se você for à Coréia do Norte, receberá educação em uma linguagem como a da Bíblia. Ela é mesmo bíblica, exceto pelo fato de o deus ser Kim Il Sung. A sociedade norte-coreana é muito religiosa. Na verdade, é daí que vem a esperança, pois lá poderia acontecer o mesmo que na China. Mao estabeleceu uma religião, o culto à personalidade e, quando ele morreu, toda a população se perguntou: “Afinal, quem é o verdadeiro Deus?”.

Rob Moll – Você disse que ainda existem algumas igrejas domésticas por lá. Isso é tudo?

Ronald Boyd-MacMillan – A principal informação que temos vem dos poucos idosos que estão autorizados a atravessar a fronteira, em determinadas épocas do ano, com algumas informações. E, também, de alguns refugiados. Essas são as nossas duas principais fontes de informação. Por elas, sabemos da existência de poucas igrejas domésticas no Norte do país organizadas em linhas familiares. Ou seja, possuem pais e avós, e só, pois mantêm as crianças distantes, devido às brincadeiras na escola, como mencionei antes.
Se você se torna cristão na Coréia do Norte, a primeira pergunta que vem à sua mente é: “Fujo ou fico?”. Ficar é sinônimo de risco de morte. Isso porque o cristão tem de ir aos festivais saudar Kim Il Sung, fazer oferendas às estátuas de Kim e se submeter a outras coisas. Ou seja, fica amarrado pelo sistema. Mas, ao mesmo tempo, não pode passar a impressão de que seu coração não está no sistema.

Se o crente foge, o risco de morte é muito maior, pois, caso seja pego, será morto a tiros ou levado a um campo de trabalho escravo. Decidindo ficar, a grande questão é: “Como esconder minha fé das pessoas que amo? Como esconder minha fé da minha esposa? Como esconder da minha mãe? Dos meus filhos?”. Isso porque, caso seja descoberto, seus familiares sofrem, são presos também. São dilemas horríveis para os que se tornam cristãos.

Rob Moll – Como alguém de fato se tornaria cristão na Coréia do Norte? Existe alguma maneira de eles ouvirem a respeito de Jesus?

Ronald Boyd-MacMillan – Existem alguns testemunhos oriundos das unidades familiares. E, obviamente, há um eixo que vem antes da guerra e que, de alguma forma, tem mantido seu testemunho no país. Mas são testemunhos silenciosos. A melhor estimativa que já ouvi é de cerca de cinco mil cristãos. Mas, ao mesmo tempo, há estimativas de meio milhão. Não há como provar. Sabemos disso por meio de algumas pessoas que estavam presas. Alguns cidadãos (não-cristãos) que conseguiram escapar do campo de trabalho nos disseram das condições. Não sabemos de nenhum cristão que escapou, pois, ao que consta, isso ainda não aconteceu, mas existe uma mulher que escapou de um campo. Na ocasião, não era cristã, mas veio a se tornar uma posteriormente. E nos relatou o tipo de vida dos cristãos lá dentro. Recebem os piores tipos de trabalho e ainda têm de sobreviver comendo ratos, já que as porções de alimento não são suficientes. Trabalham da seis da manhã até as nove da noite. São podem olhar para o céu. Esse é um dos castigos. Não devem olhar para Deus. Devem olhar para baixo o tempo todo.
Rob Moll – Os sul-coreanos têm condições de fazer qualquer tipo de ministério no Norte por meio de campanha de alimento ou qualquer outra coisa?

Ronald Boyd-MacMillan – Existem alguns, mas a maioria das ONG’s cristãs se retirou, pois não conseguia se certificar da ajuda chegando aos que precisavam. O governo pegava o arroz que vinha das organizações não-governamentais e passava para o exército, deixando a população com fome.

Rob Moll – Quais são alguns dos desafios para tentar ajudar a “Igreja Perseguida” em lugares como a Coréia do Norte?

Ronald Boyd-MacMillan – É muito importante traçar um perfil de sofrimento extremo. Mas isso não é tudo. Como a nossa responsabilidade é ajudar toda a “Igreja Perseguida”, se nos concentrarmos somente nas situações extremas iremos perder o fortalecimento da maioria da comunidade cristã que sofre perseguição.

Gostaria que os cristãos do mundo todo tentassem ver o cenário por completo, pois é assustador. Não se trata somente de saber como os crentes norte-coreanos sobrevivem na prisão, em meio aos espancamentos e aos martírios. Trata-se de como Deus constrói seu reino por meio dessas forças perseguidas, mesmo por meio de pessoas como Mao Tse Tung. Deus dobra o mal à sua vontade. A grande verdade é que “todo mundo constrói o reino, independente de conhecê-lo ou não”.

Algumas das mais eficazes construções do reino ocorrem pelas mãos daqueles que pensam que estão destruindo. Essa é a grande imagem que quero que as pessoas tenham. No fim das contas, essa imagem irá ligar as pessoas à história de todos os perseguidos e elas não se basearão somente nos casos extremos de perseguição.

Penso que o fundamental é nos perguntarmos: “O que a ‘Igreja Perseguida’ tem a nos ensinar? O que Deus tem feito e que precisamos escutar, já que fazemos parte do corpo?”.
Onde quer que estejamos, passaremos por algum tipo de perseguição, porque estamos diante de um fenômeno espiritual e não legal. Se olharmos para o debate dos direitos humanos, é um fenômeno legal, pois tudo é elaborado pelos advogados. Mas a perseguição é espiritual e o entendimento bíblico disso é que quando você passa a ser cristão os inimigos de Cristo se se tornam seus inimigos. Você sofrerá algumas das conseqüências por isso. Sendo assim, existe uma estrada dolorosa a ser seguida, mas também é uma estrada gratificante. Se esquecermos isso, paradoxalmente esqueceremos uma das grandes fontes de alegria da vida cristã.
Tradução: Fabio Caruso Melo
Fonte: Christianity Today Magazine
Colaboração: http://www.portasabertas.org.br

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